Saúde Mental: as pessoas serão prioridade nas empresas

Publicado em: 25/08/2020

SAÚDE MENTAL: AS PESSOAS SÃO PRIORIDADES NAS EMPRESAS

Especialista destaca que as mudanças dessa nova era vão exigir um autoconhecimento muito mais profundo 

 

O primeiro dia do “SW Conference – Edição Especial Live”, que aconteceu de 03 a 18 de agosto e foi realizado 100% online e gratuito, contou com a participação de Priscilla Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura da “Qualidade Corporativa – Smart Workplaces”. A empresa é a idealizadora da maratona de lives que aconteceu ao longo de duas semanas e teve como ponto central dos debates o tema “Cenários e Oportunidades do Mercado Corporativo Pós-Pandemia”. 

A convidada para a live de abertura foi Cinara Soares, do Instituto Brasileiro de Neurofeedback. Logo no início, a arquiteta Priscilla Bencke reforçou o cuidado em trabalhar a neurociência nos ambientes e como surgiu a parceria com Cinara. A arquiteta destacou os momentos de insights após sua ida para a Alemanha, onde foi estudar e se aperfeiçoar em busca de conhecimento para que pudesse oferecer mais qualidade de vida para as pessoas e não apenas projetar ambientes. Para esse desafio se uniu a profissionais de várias ciências complementares, como a neurociência e psicologia. 

Neste período conheceu  Cinara Soares e juntas têm realizado muitos projetos com foco nos ambientes corporativos. E neste momento delicado que a humanidade vive, Cinara, que é especialista em neuropsicologia, reforça que a mudança precisa começar nas pessoas, de dentro para fora e de maneira individual. Ela explica que temos programações pré-formatadas em nosso cérebro e que se traduzem em comportamentos, seja para ser bem sucedido, para sobreviver etc. 

Segundo ela o grande problema e as dificuldades maiores desse momento de pandemia é que o ser humano sempre se achou inatingível, afinal, tem a ciência para descobrir tudo, tem conhecimento. Mas ela reforça que tudo isso não funcionou quando nos vimos diante de uma pandemia que afetou todo o planeta e não conseguimos encontrar uma solução. Como resultado, estamos nos sentindo ameaçados enquanto espécie. E isso suspende a superioridade do ser humano, faz com que cada um fique “cara a cara” com a verdadeira humanidade, com as vulnerabilidades expostas. 

Então, o que fazer agora? Queremos a todo custo adiantar o futuro para ter controle sobre o que vai acontecer, como devemos nos prevenir, o que precisamos fazer. Mas antes de buscarmos uma solução, Cinara afirma que é preciso compreender a diferença entre catástrofe e acidentes naturais. Como ela mesma destaca, muitas pessoas chamaram a pandemia de catástrofe.  

Momentos assim, como aconteceu em Brumadinho (Minas Gerais) ou 11 de setembro (nos Estados Unidos) são ações pontuais, que impactam as pessoas, traumatizam e sobrecarrega de tal forma que a pessoa não consegue lidar emocionalmente com aquela situação. No entanto, descobre forças e aos poucos tudo vai voltando ao normal. Mas uma pandemia não é catástrofe, ela é um acidente natural considerado “incendioso” porque começa a acontecer e vai crescendo, e não sabemos aonde vai parar.  

Neste caso, o grande problema de uma pandemia e das incertezas de não saber o que vai acontecer e quando vai acabar é que enquanto não há uma solução vamos alimentando nossos fantasmas internos. E os impactos disso são impensáveis. Há estudos que mostram ondas de impacto desse tipo de situação. A primeira onda é a pessoa contaminada, que além do vírus precisa lidar com os fantasmas do vírus, como impotência, questão econômica, medo de alguém da família morrer etc. 

Além disso, tem a questão do ser humano ser sociável, e não poder estar junto de outras pessoas pode desencadear sentimentos de depressão, abandono. E isso, alerta Cinara, é bem diferente de gostar de estar só por opção. A segunda onda são as sequelas de pessoas que não vão conseguir atendimento adequado nesse momento por conta do contingenciamento de equipes médicas, seja porque tiveram traumatismo craniano, acidente vascular cerebral (AVC), ou mesmo porque precisam de tratamento contra o câncer. Afinal, não haverá tanta equipe médica disponível, uma vez que o foco está nas pessoas afetadas pelo vírus.  

De forma mais objetiva, Cinara pontua que a primeira onda resolvemos de maneira mais fácil; as segunda e terceira ondas demoram mais para serem resolvidas; e quando chegamos na quarta onda ela tem uma progressão com uma curva sem final definido para acabar e isso impacta de maneira muito forte na saúde mental das pessoas. 

Por isso, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomenda que todos comecem a investir em saúde mental porque esse impacto vai ser muito grande e pode ser que gere sequelas num período de até 10 anos, segundo alguns estudos. E isso é muito sério porque a saúde mental, se não for bem cuidada, pode ocasionar outras situações, como úlcera, problemas de pele etc.     

Quando falamos que devemos começar pelas pessoas, explica Cinara é voltar o olhar para dentro. Começar por ajudar as pessoas a olharem para si mesmas Seguindo a lei do avião, de ajudar você  primeiro e depois aos outros. 

 

COMO SERÃO OS ESCRITÓRIOS DO FUTURO? 

Cinara reforça que antes de pensarmos em readaptar os escritórios precisamos compreender como estarão os profissionais que daqui a pouco vão voltar ao trabalho. E também considerar como estarão os líderes que vão liderar esses colaboradores. Para isso, é fundamental que a empresa ofereça suporte psicoemocional a essas pessoas 

Até porque durante décadas nós focamos no conhecimento técnico e esquecemos de se autoconhecer. E esse processo de olhar para dentro, afirma Cinara, dói e não é agradável. Ela explica ainda que temos o hábito de acreditar que o fato de “tirar um tempo para si, tirar um tempo para meditar, cuidar da saúde, vai te fazer sentir culpada por não estar produzindo, por estar perdendo dinheiro. É preciso mudar essa mentalidade”. 

O que ela recomenda fazer neste momento é buscar o equilíbrio, ou seja, até aqui boa parte do que foi feito deu certo, e outra parte não deu certo. Prova disso é que estamos sem solução diante de um vírus. Então, o que funcionou? O que devemos continuar fazendo e o que precisamos mudar? Ela destaca que o ser humano precisar abrir canais de percepção, observar mais para conseguir visualizar isso.  

Procurar sentir mais as emoções que vivencia todos os dias, tentar entender os próprios medos. Para isso vale até mesmo escrever sobre as emoções sem a preocupação de mostrar a alguém. É colocar num caderno tudo o que tem medo e programar algo para vencer esses medos. Parar e pensar o que te faz não querer sair da cama mesmo estando em home office, o que te faz ficar acordado de noite? Mas não coloque embaixo do tapete porque você vai alimentar essa paranoia. 

Esse processo ajuda a criar forças e segurança interna e, consequentemente, sua postura diante da vida e das situações vai “contaminar” o ambiente. Por isso, é fundamental que as empresas compreendam como as pessoas estão em casa, o que estão sentindo. Cada ser humano lida de uma maneira diferente com as situações, mas é importantíssimo, segundo Cinara, que a empresa faça o mapeamento dessas emoções.  

Porque temos também o que muitos especialistas chamam de “vírus psicológicos” que a gente transmite. E quando estamos seguros podemos lidar com muito mais clareza e transparência, até mesmo mostrar o que não sabemos, sendo humildes para aproveitar e pedir a colaboração de todos, estar mais disponível nem que seja só para ouvir o outro.  

A própria fofoca, conta Cinara, no desenvolvimento do ser humano, serviu para nos mostrar com quem podemos nos aliar, em quem confiar. Não que seja certo fazer fofoca, mas o momento é propício para construir um universo mais colaborativo junto às equipes. É compreender que, apesar de precisarmos ter 1,5 m de distância, precisamos nos conectar nesse momento pós-pandemia. É olhar, dar um sorriso, ter um objetivo único, redescobrir e resgatar a missão da empresa.  

Uma das sugestões de Cinara é que o próprio RH da empresa pode criar grupos que sirvam de catalisadores dessas emoções das pessoas. Mas o que fazer com quem não consegue falar dos sentimentos reais? Ela simplesmente recomenda “olhar fixamente nos olhos dessa pessoa porque os olhos são as janelas da alma”. 

Nesta live de abertura da maratona de lives, Cinara Soares conclui a conversa destacando que “aqueles que se transformarem serão os agentes transformadores dessa nova era”.  


* Conteúdo produzido pela Visão Estratégica Comunicação (www.visaoestrategica.com.br)

 

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Priscilla Bencke

Arquiteta, pós-graduada em Arquitetura de Interiores, se especializou em Projetos para Ambientes de Trabalho na escola alemã Mensch&Büro Akademie.

Única profissional no Brasil com a certificação “Quality Office Consultant”.

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