Humanização: O fator de equilíbrio entre as pessoas e o ambiente físico.

Publicado em: 20/09/2018

*Escrito por Maíra Costa

 

Humanização: O fator de equilíbrio entre as pessoas e o ambiente físico.

                   

Em meio à era do desenvolvimento tecnológico, termos como automatização, robotização, inteligência artificial são cada vez mais desejados e popularizados. Nesse cenário progressivamente artificializado, o substantivo humanização tomou caráter de adjetivo atribuindo sentido especial às atividades, sendo contextualizado a vários serviços, produtos e especialidades técnicas, de modo que nos ambientes de trabalho o mesmo é visto enquanto tendência almejada por muitos.

 

Quando se trata do meio corporativo é comum vê-la sendo abordada referente às relações sociais, ao nível de respeito, empatia e a atmosfera harmônica das equipes, mas é um tema que também cabe à avaliação do ponto de vista do espaço físico, haja vista que atualmente ciências como a Neuroarquitetura, já comprovam o quanto o ambiente interage com seus ocupantes influenciando estes(as) a níveis físicos e psíquicos. Vale ressaltar, que a arquitetura não determina a ação de seus usuários (as), mas pode condicionar o comportamento destes (as), isso demonstra a responsabilidade para com sua aplicação.

 

Nesse contexto, Humanização se torna um conceito familiar e simples, mas sem deixar de ser complexo. Segundo o dicionário Aurélio, este refere se ao ato de “humanizar, civilizar, suavizar, inspirar a humanidade, tornar-se humano”, portanto, uma ação natural à própria espécie. Sendo assim, o que configura o caráter de humanizado ao projeto e ao espaço físico? Será que basta colocar vegetação no ambiente? Será que é quando se colore, inseri figuras humanas, mobiliário nos desenhos técnicos? Às vezes sim, mas para humanizar de forma efetiva, requer se muito mais. Desta forma, a humanização na arquitetura se volta para o processo e está relacionada aos resultados gerados, no propósito, em função de quem estão às premissas projetuais, pois como afirma Morgan (1996) “A natureza verdadeiramente humana das organizações é a necessidade de construí-la em função das pessoas e não das técnicas”.

 

 

Portanto, humanizar um ambiente é pensá-lo do ponto de vista integral, avaliando não só as tendências do mercado que supram as necessidades funcionais e estéticas, mas também ter um olhar empático quanto às consequências fisiológicas das proposições em seus (as) ocupantes. E esse viés biológico, torna imprescindível avaliar o local a partir de aspectos que promovam o bom desenvolvimento da vida, e elementos que contribuam para saúde das pessoas. O bem-estar humano, também perpassa o estado de equilíbrio corporal, ou seja, seu modo de homeostase. Mas o que tem a ver o espaço físico com isso?  Ambientes saudáveis cooperam para o processo de manutenção da estabilidade do organismo, onde o corpo busca manter as substâncias químicas em níveis adequados, a pressão controlada e temperatura interna constante.

 

Na interação entre as pessoas e o meio externo vários elementos ambientais interagem com os usuários e influenciam esses níveis, e essa relação nem sempre se dá de forma positiva, haja vista, os ambientes cada vez mais sintéticos. Nessa situação, o corpo passar a “lutar” contra esses agentes estressores que podem ser provenientes de aspectos tais como: qualidade do ar, conforto térmico, parâmetros de iluminação, acústica e fatores relacionados à sensação de segurança.

 

 

Esse esforço do organismo em defender ou se adaptar, gera um desgaste energético, e nessa busca por equilíbrio deve-se avaliar a energia que os (as) usuários (as) gastam para reagir a essas fontes estressoras do ambiente em detrimento a realização de suas atividades, bem como, a contribuição do espaço físico para que a energia dos (as) ocupantes seja utilizada em suas atividades, o que a Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA) denomina respectivamente de energia in e out. Diminuindo assim a possibilidade de enfermidades como a Síndrome Geral da Adaptação ou Síndrome do Stress, bem como questões de insônia, ansiedade, descontrole hormonal, obesidade, alteração da pressão sanguínea, entre outros.

 

Então, o que fazer? Tem como impedir essa interação? A experiência humana é construída com base nas respostas aos estímulos externos por vias sensoriais, que nem sempre estão sobre o controle consciente do usuário, logo não há como bloquear totalmente essa interação com espaço físico, pois também é com base nisso que a vida se desenvolve. Mas os (as) profissionais e ocupantes podem optar sobre a qualidade dessa relação, se essa potencialidade do espaço físico será utilizada a seu favor ou não. E aí, você tem escolhido o quê?

 

Vale ressaltar que o ambiente não deve ser visto enquanto fator isolado, mas sim, parte relevante dessa busca por qualidade de vida, e que há nesse a capacidade de contribuir de forma efetiva para o desempenho humano, principalmente nos ambientes de trabalho, local este que para muitos está associado a níveis extremos de desgaste, esforço e cansaço. Pensar um ambiente de trabalho que ao invés de te desgastar, te potencializa e contribui para sua saúde integral é possível e com estratégias que podem ser simples, adequadas a sua realidade e necessidades, inclusive as biológicas, e é a partir disso também que se estabelece a humanização dos ambientes construídos.

 


Escrito pela integrante do SW TEAM:

Maíra Costa, de Linhares (ES), é Administradora e Graduanda em Arquitetura e Urbanismo com Certificações Internacionais como Especialista em Projetos para Ambientes de Trabalho (Geprueprüfter ArbeitsplatzExpertin – MBA) pela Mensch&Büro-AkademieCertificadora de Ambientes Saudáveis pela Healthy Building Certificate.

Priscilla Bencke

Arquiteta, pós-graduada em Arquitetura de Interiores, se especializou em Projetos para Ambientes de Trabalho na escola alemã Mensch&Büro Akademie.

Única profissional no Brasil com a certificação “Quality Office Consultant”.

X