Como é a relação entre a geração millennial e os espaços de trabalho?

Publicado em: 12/06/2019

*Escrito por Inaha Paz

Como é a relação entre a geração millennial e os espaços de trabalho?

 

Se você nasceu entre os anos de 1979 e 1995 faz parte de uma geração que tem modificado o padrão de comportamento em diversas áreas. Os millennials, ou geração Y, são filhos da geração X (nascida depois do baby boom pós-Segunda Guerra Mundial) e romperam drasticamente com alguns conceitos consolidados pelos seus antecessores.

Fonte: https://www.digitaldealer.com

 

Tendo nascido e crescido durante a revolução causada pelo surgimento e crescimento da internet, desenvolveram-se numa onda crescente de avanços tecnológicos e inovação, alta conectividade e consequente diversidade de interações virtuais que acabaram impactando diretamente as relações sociais, de consumo, serviço, trabalho e, porque não dizer, as emoções das pessoas. Após presenciarem a crise econômica ocorrida em 2008 um estilo de vida notoriamente dotado de uma maior consciência foi se estabelecendo entre os millennials, o que passou a nortear as decisões de consumo e apropriação dos espaços por parte dos mesmos. São pessoas em sua maioria preocupadas com a escassez de recursos naturais e com a sua responsabilidade no movimento de desaceleração desta tragédia, além de considerarem toda a cadeia de produção de um item até optarem pela sua compra.

 

Um levantamento da Trendsity, encomendado pela Arcos Dorados, rede de franquias de restaurantes McDonald’s, traça um perfil básico da geração Y:

  • Almejam estar envolvidos em projetos com propósito bem determinado e relativo impacto social;
  • Preocupam-se com conceitos como igualdade e inclusão;
  • Em geral não existe o desejo de perder a felicidade e o bem-estar em troca de uma carreira.
  • Consideram-se exigentes e difíceis de satisfazer;
  • Buscam engajamento e conexão emocional nas diversas atividades que realizam (tendem a ser multipotenciais).

 

O comportamento dos millennias nas mais diversas áreas está ligado à experiência, o que nos diz muito no que diz respeito aos projetos arquitetônicos voltado para estas pessoas, o que ao meu ver deveria ser a preocupação principal das arquitetas e arquitetos projetando qualquer tipo de espaço para qualquer indivíduo: a experiência e o senso de pertencimento. Especialistas afirmam que até 2020 os millennials ocuparão metade de todas as vagas do mercado de trabalho ao redor do mundo, logo, entender como relacionam-se com os espaços é imprescindível para impactar positivamente suas experiências e criar a tão desejada conexão com os espaços que ocupam, principalmente os espaços de trabalho, alvo da nossa reflexão.

Fonte: https://www.shorthillsnjrealtor.com

Fonte: http://tinyhouseswoon.com/

Fonte: https://www.hindustantimes.com

 

De uma maneira geral esta geração tem interesse em conviver em espaços cuja flexibilidade e versatilidade favorecem o compartilhamento e facilita a comunhão entre serviços diferentes que se agregam por ideias afins. O que cito aqui não tem a ver, necessariamente, com espaços totalmente abertos (onde não só há proximidade das pessoas no que diz respeito à colaboração, como também à diminuição da concentração e produtividade), mas locais que, a depender de sua demanda instantânea, sejam facilmente modificáveis. A partir daí os modelos de escritórios surgem como alternativas para propiciar também o compartilhamento de dados, ideias e todo tipo de informação, com espaços para vídeo colaboração e outras atividades inerentes à cultura digital: é a necessidade constante de conectividade. Neste sentido atributos como amplitude, boa iluminação e variedade de texturas e cores entram em cena para viabilizar a criação de diferentes superfícies que sirvam também como estúdio para a produção de conteúdo, algo tão presente no cotidiano de um jovem da geração Y.

Fonte: https://money.howstuffworks.com

Fonte: https://rushfaster.com.au/

 

Para atender a esta geração que tem influenciado diversas transformações de padrões no mundo (inclusive a extinção deles), os espaços compartilhados, estações domésticas de trabalho e políticas flexíveis para o desempenho de funções profissionais, que há cerca de quinze anos eram uma exceção, hoje certamente são cada vez mais comuns, o que requer dos espaços de trabalho mais um atributo: a mobilidade.

Fonte: https://www.cbre.com

Fonte: https://www.forbes.com

Fonte: https://www.bdcnetwork.com

Fonte: https://www.globalfurnituregroup.com

Fonte: https://design-milk.com

 

Os millennials também possuem um espírito autônomo e talvez esta seja a geração em que mais indivíduos se projetam para tornarem-se os próprios patrões, o que acaba por estimular o uso de um mesmo espaço para mais de uma atividade, por isso ter uma casa que possa adaptar-se à um espaço de trabalho é um critério nas buscas por imóveis realizadas por eles (nós). Daí, ao meu ver, duas tendências quase que contrárias se tornam visíveis, não por moda, mas por necessidade: de um lado está o minimalismo que confere amplitude e liberdade de mudanças aos espaços e os tornam quase sempre mais tecnologicamente inovadores e, por outro lado, o viés que me convém apelidar de cozy (acolhedor em inglês), onde os espaços estão impregnados de referências pessoais, itens que trazem aconchego, memórias afetivas e alusões à tudo e todos que são responsáveis por gerar momentos de prazer e felicidade para quem vive/trabalha ali. As estações de trabalho domésticas (ou home offices), possuem um ambiente determinado com tudo o que é necessário para desempenhar as funções diretas do ofício, mas também elementos para comunicação coletiva remota, compartilhamento de ideias e até dispersão no momento do ócio criativo.

É necessário alertar aqui que todo o equilíbrio holístico e a vida instagramável perseguidos pelo adulto millennial são também a razão de um esgotamento emocional (e físico), o chamado burnout, sem precedentes em outras gerações, o que é imensamente preocupante e certamente afeta o nosso objeto de estudo, mas geraria material para outra conversa. Quem sabe não falamos mais sobre o assunto em outro momento? Se você chegou até aqui, obrigada! Me conta o que achou!

Fonte imagem da capa: https://www.conexaolusofona.org/

 

 


Escrito pela integrante do SW TEAM:

Inaha Paz, publicitária, designer de interiores, arquiteta e urbanista. Atua no mercado baiano desde 2010 e ao longo deste período ajustou a sua linguagem para propor uma arquitetura e design para viver bem, dando o protagonismo às pessoas, atenta à diversidade contida no universo de cada indivíduo e aos sonhos, às trocas de experiências, ao sentimento de acolhimento, ao ato de derrubar barreiras e à leveza com a qual devemos viver. 1ª profissional da Bahia a receber a certificação alemã de Projetos para Ambientes de Trabalho pela Mensch&Büro Akademie, investiu no estudo, pois acredita que os espaços de trabalho, estejam onde estiverem, também podem {e devem} proporcionar momentos de felicidade. É uma grande entusiasta da neuroarquitetura e defende a ideia de que um grande movimento de transformação pode acontecer a partir da mudança na relação dos espaços que ocupamos, afinal “burilar a casa {e todos os espaços que ocupamos} é burilar a vida 🙂

Priscilla Bencke

Arquiteta, pós-graduada em Arquitetura de Interiores, se especializou em Projetos para Ambientes de Trabalho na escola alemã Mensch&Büro Akademie.

Única profissional no Brasil com a certificação “Quality Office Consultant”.

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